Salman quer estabilidade na política petrolífera

Imprimir

O novo rei da Arábia Saudita, Salman Ibn Abdulaziz Al Saud, disse hoje (23) que não haverá alterações na política petrolífera do país, após a morte nessa quinta-feira (22) do seu antecessor Abdullah, seu meio-irmão. Salman acredita que a Arábia Saudita não irá alterar também a estratégia em relação à produção de petróleo.

Em declarações transmitidas pela televisão, Salman disse que a Arábia Saudita vai estar, "com a força de Deus, no caminho certo, como assim tem sido desde a sua fundação pelo rei Abdul Aziz Bin Saud e os seus filhos depois dele".

A morte do rei Abdullah, de 90 anos, foi atribuída a uma pneumonia, e Salman, de 79 anos, tornou-se nesta madrugada o novo monarca do país. A morte do rei Abdullah não poderia ter vindo em pior momento para a Arábia Saudita, principalmente no setor-chave do petróleo, já que o reino está tentando reafirmar sua liderança na mudança global do negócio do petróleo bruto.

A morte do rei, que liderou durante 20 anos os destinos do maior exportador de petróleo, ocorre numa altura em que o preço do produto está caindo acentuadamente nos últimos meses devido à fraca procura e oferta abundante.

O economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, disse que a morte do rei Abdullah não deve causar mudança "significativa" na política de petróleo saudita.

Desde 2000, o reino tem investido dezenas de milhões de dólares para se tornar o único país a ter capacidade de reserva de produção viável de 3 milhões de barris por dia. Além disso, aumentou a capacidade de refino para 5 milhões de barris diários e desenvolveu a produção de gás natural.

Aproveitando-se da instabilidade em outros países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Irã, Iraque, Líbia, Nigéria, entre outros), o reino da Arábia Saudita aumentou a produção diária de 8 milhões de barris por dia em 2011 para um nível atual de 9,6 milhões de barris diários e não parece disposto a desistir tão cedo.

Com preços rondando os US$ 100 por barril durante anos, combinado a um aumento da produção, o país conseguiu ter uma reserva financeira de US$ 750 bilhões. O subsolo da Arábia contém também a segunda maior reserva de petróleo do mundo, e a quinta reserva mundial de gás natural.

Após uma última década de prosperidade, o reino está lutando para defender a quota de mercado e liderança perante os produtores não convencionais e não membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Sob pressão de Riade, a Opep decidiu no final de novembro manter a produção inalterada, acelerando a queda dos preços para níveis não vistos desde a crise de 2008. Os preços caíram 50% entre junho e dezembro.

Pela primeira vez em 40 anos, a Arábia Saudita, que produz um décimo das reservas de petróleo do mundo, tem-se recusado a agir para estabilizar o mercado, alegando razões econômicas. "Não é do interesse dos produtores da Opep cortar a produção", que "desça para US$ 20, 40, 50 ou 60" por barril, disse no final de dezembro, o ministro saudita do Petróleo, Ali Al Nouaïmi. "Se cortar a produção, o que vai acontecer com a minha quota de mercado? Os preços sobem, mas os russos, brasileiros e os produtores de petróleo de xisto dos Estados Unidos vão pressionar os preços e ganhar mercado", acrescentou.

"Haverá uma linha de continuidade. A política petrolífera é definida por um grupo de tecnocratas e não vejo que a próxima monarquia mude esta ordem das coisas de forma significativa", disse Frederic Wehrey, especialista em Golfo Pérsico do Instituto Carnegie Endowment for International Peace.

Jean-François Seznec, especialista em petróleo e professor da Universidade de Georgetown, explica que Riade vai se defender "com unhas e dentes" para "manter a sua liderança".

Entre 2005 e 2014, os Estados Unidos conseguiram reduzir as importações líquidas de petróleo bruto de 12,5 milhões de barris diários para 5 milhões, principalmente devido ao aumento da produção interna de gás e de petróleo de xisto.

"O petróleo saudita sente-se de alguma forma ameaçado pelo fato de os Estados Unidos já produzirem uma média de mais de 8 milhões de barris por dia, restringindo as importações", acrescenta Seznec.

Para Bassam Fattouh, diretor do Instituto Oxford para Estudos Energéticos, a produção americana "levou a uma mudança no comércio mundial de petróleo". Devido à proibição ou redução das importações norte-americanas, africanos e exportadores latino-americanos têm-se voltado para o mercado asiático, disse Fattouh. Mas, com uma queda da procura na China, agora o maior importador líquido de petróleo, a competição tem claramente endurecido. Riade exporta dois terços do seu petróleo para os mercados asiáticos.